domingo, 25 de junho de 2006

Paris copa do mundo

Em época de copa do mundo, como em todo lugar, a seleção nacional de futebol mobiliza a paixão dos torcedores. “Allez les bleus”, o grito de guerra dos torcedores franceses, era o que se ouvia depois da “brilhante” vitória sobre a seleção de Togo. Eles também acham que vão ser campeões. Fomos assistir a partida em um café perto de casa, afinal não poderíamos deixar passar esta oportunidade de vê-los sofrer, precisavam ganhar para não serem eliminados. E como sofreram, o fanatismo contido dos seus torcedores faz com que batam palmas diante da televisão quando ocorre alguma jogada de suspense. Mas após vencerem já pensam em enfrentar o Brasil. Os franceses, como todos os torcedores, ficam chiando o tempo todo, e a comparação com a nossa seleção é inevitavel, ocorre a todo momento, tanto na telinha quanto nas observações da platéia. Se eles forem em frente, acho que o clima futebolístico na cidade deve esquentar um pouco mais. Até o momento, a presença da copa está nos jornais, nos bares e nas publicidades, onde a figuras centrais são: o Ronaldinho gaúcho e Zidane herói nacional para eles e de triste lembrança para nós. O pessoal daqui gostaria de ter o Ronaldo fenômeno, mesmo gordo, em sua equipe; o cara é recordista de gols mas a nossa turma ainda acha que ele é grosso. Enfim, coisas da paixão pelo futebol. E os argentinos hein? Precisaram de um gol contra e de um gol espírita para vencer os mexicanos. Não boto muita fé neles, embora eu espere que eles estejam guardando tudo para o jogo contra a Alemanha que está com a bola toda. Por aqui é comum ver o pessoal com a camisa verde e amarela, mas estão esperando mais da nossa seleção, querem show e muitos gols, como nós aliás. Se não golear é porque a equipe jogou mal e não houve empenho da turma. É impressionante como o conhecimento do Brasil no exterior se restringe ao futebol, o que é uma perda para eles. Afinal o futebol é apenas um detalhe, mas que detalhe! Dizem até que é no labirinto dos detalhes que moram os sonhos dos humanos habitados por anjos e demônios e que ao dormir eles se movimentam e ao acordar eles se escondem.

Paris Giverny e Marmotan


Nestes dias em Paris estamos morando num apartamento conjugado, que os franceses chamam de ‘studio’, que se situa no 32 bis, Avenue René Coty, no 14eme arrondissent, próximo a cidade universitária, para chegarmos nela basta atrevassar o Parc Montsouris. Salvo o perfume deixado no hall de entrada por dois cachorros do vizinho de baixo, que mais parecem bezerros, o apartamento é agradável, tem uma varanda, e podemos até ensaiar pratos da culinária francesa, e também lógico beber vinhos locais que compramos no supermercado perto daqui. O bairro é fora do centro o que permite um dia a dia comum.
Às vezes, de vez em sempre, saímos para diversos programas. Um dia desses, pela manhã, pegamos o ônibus 28, que passa perto, na Av. Gen. Leclerc, e fomos até a Gare de Saint Lazare, donde tomamos um trem para a cidade de Vernon e de lá um ônibus para Giverny, pequena vila de cerca de 600 habitantes, tudo para conhecer a casa de Claude Monet e seu famoso jardim. O pintor comprou a casa quando já tinha 50 anos de idade e após três anos adquiriu um grande terreno ao lado para completar seu quintal e instalar seu jardim das águas, pelo visto, uma de suas paixões. Ao contrário da época em que vivia, ele decidiu construir um jardim onde as flores se misturam: lilases, rosas de diferentes tipos e cores, amor-perfeito, tulipas, flores do campo e muitas outras mais. Monet quis construir o seu jardim japonês, com um pequeno riacho e ponte, aonde se forma um espelho d’água, cheio de plantas, entre as quais algumas que se parecem com pequenas vitórias-régias. Neste ambiente, ele pintou grande parte de sua vastíssima obra. Hoje há uma fundação que procura manter este jardim, o máximo possível, conforme o seu autor idealizou e realizou. É como se estivéssemos a sonhar, mirando o jardim, e de repente, sentíssemo-nos a passear pelos quadros pintados por Monet. É como viajar em um museu vivo. Lá se encontram pessoas que pela fotografia, pelo desenho e até pela pintura, parecem querer continuar o trabalho do grande artista. Mas a emoção não foi deixada lá; no dia seguinte fomos ao Museu Marmotan que reúne muitas de suas obras pintadas em Giverny. É demais, o cara entre 50 e 85 anos de idade produziu beleza plástica atrás de beleza com os diversos olhares que dirigiu ao seu jardim. Este museu em Paris, relativamente pouco visitado, recebeu, por doação de seu filho Michel Monet, suas obras e sua coleção particular. O Museu Marmotan se origina de uma família de abastados colecionadores e abriga também o quadro de Monet: “Impression soleil levant” que deu origem ao movimento impressionista a ao termo “impressionismo”, após a crítica irônica da mídia especializada à época em que foi pintado. Pode-se, neste museu, com toda tranqüilidade, ficar a contemplar suas obras e viajar por suas cores e formas.

Europa Euro

A vida dos que viajam pelos países da Europa ficou muito facilitada com a criação de uma moeda comum: o euro. Não há mais aquela coisa de escudos, pesetas, marcos, francos, liras, e várias outras moedas. Anteriormente, os viajantes precisavam fazer um monte de contas para calcular suas despesas, tinham que converter os preços para o dólar americano para ter uma idéia de quanto estavam gastando, sem se falar do levantamento que tinham que fazer das cotações do dólar na moeda local que variava de esquina para esquina. A sensação era a de que sempre estavam sendo enganados. Porém, embora o euro já tenha quase seis anos, as contas e notas fiscais aparecem com dois valores: um em euro e outro na moeda local, calculada a conversão com base ao valor da data de adoção do euro (2000). Parece esquisito mas ainda hoje as pessoas fazem as contas como se a moeda anterior existisse e a opinião de grande parte delas é que tudo passou a ficar muito mais caro após a criação de uma moeda comum. Mesmo que a tendência das pessoas seja a de lembrar mais dos preços do que dos seus rendimentos na moeda antiga, seus comentários indicam que alguma razão eles devem ter, principalmente naqueles países que tinham preços relativamente mais baixos, como Portugal e Espanha. Na França também as pessoas chiam. Quando alinharam os preços pelos países de moeda mais forte, a conseqüência foi, em alguns países, de os preços de fato subirem; nestes as rendas também eram e são mais baixas; assim, a turma logo percebeu que a vida não ia ser fácil com a nova moeda, mesmo com todos os investimentos que foram realizados. Ao se viajar atualmente, observa-se pouca diferença de preços entre os países, a exceção da Alemanha, aonde os preços de alimentação são bem mais baixos do que em Portugal, França ou Espanha. Hoje, o euro é uma moeda mais forte que o dólar e não se nota mais aquela dominância das verdinhas.

terça-feira, 13 de junho de 2006

Paris Turista Sofre


Como turista sofre! Fala-se que Paris e arredores somam hoje aproximadamente dez milhões de habitantes. Os guias turísticos informam que cerca de setenta milhões de pessoas passam pela cidade durante o ano, donde se conclui que na alta estação há dias que a cidade dobra seu contingente humano.
Como turista sofre! Se um visitante recém chegado à cidade resolver subir a torre Eiffel, pode-se preparar para encarar uma fila de uma hora para pegar o plano inclinado para subir ao segundo nível da torre e lá mais uns cinqüenta minutos para ir de elevador até o topo. Lá de cima, com dia claro, tem-se uma visão completa de toda Paris, claro, acompanhados das torcidas de vários países, que entre suspiros e fotos expressam todas suas emoções.
Ah! Como é agradável sentar-se num café e apreciar o movimento! Ir ao Marais ou ao Quartier Latin, espaço contado em prosa e versos, freqüentado por Sartre, Simone de Beauvoir e tantos intelectuais e artistas. Apenas um detalhe! Haja bares e cafés, com seus toldos vermelhos, cadeiras de palhinha, mesinhas redondas com tampo de mármore, para receber as pessoas que tiveram a mesma idéia. Por que não ir então ao Museu de Orangerie para ver as obras de pintores impressionistas? Que surpresa, outra filinha de uma hora de espera ao ar livre.
A impressão que se tem é que Paris está ultrapassando seus limites e capacidades. Em toda cidade o estacionamento de automóveis nas ruas é pago, já há muitos anos, e como os prédios não possuem garagens e não permitem o estacionamento encima das calçadas como em certas cidades mais descontraídas, observa-se um paradoxo: como os carros estacionam se jamais encontram vagas para estacionar?
A cidade possui uma invejável rede de Metrô articulada a um eficiente sistema de linhas de ônibus, mas não é fácil encontrar lugares para sentar e durante o dia, como o congestionamento permanente, leva-se horas dentro de ônibus em geral lotados. Parece que a cidade está chegando perto do seu limite.
Cresce o número de novos edifícios comerciais altos e os edifícios residenciais novos, embora respeitem o gabarito de seis ou sete andares, dão um jeito de por mais um ou dois andares mediante a redução do pé direito, coisa de arquiteto contemporâneo.
Conclusão: avisem todo mundo que não é mais para visitar Paris. Ta?

Paris Atual


A que um dia já foi chamada de cidade luz, considerada um dos centros do mundo, não sabemos se ainda é. De alguma maneira encarna as contradições dos dias atuais. Os franceses disseram não, pelo voto, à ratificação da constituição européia e disseram não, através de grandes confusões e manifestações de rua, à chamada lei do primeiro emprego, ambos por considerarem uma ameaça ao seu modo de vida. Num certo sentido o que está em questão para eles é o ‘european way of life’ com sua ênfase na proteção social e o ‘american way of life’ baseado na competição e na chamada economia de mercado. Haverá eleições gerais no ano próximo e os partidos políticos estão concentrados no debate das questões do emprego, do futuro dos jovens, no custeio da previdência social e também na questão da segurança pública. Ainda continua a ocorrer nas periferias alguns embates entre jovens, às vezes encapuzados, com as autoridades, em verdadeiras batalhas campais, enquanto os políticos discutem leis mais liberalizantes ou redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais e aumento do salário mínimo. O centro das questões ideológicas não está mais entre socialização dos meios de produção e a livre iniciativa, mas no emprego e na disputa direta pelo resultado da produção e pela maior ou menor exploração da força do trabalho humano.
Paris é hoje uma cidade além de cosmopolita também mestiça, observa-se a convivência multirracial e a miscigenação em todos os cantos. A população de negros e mulatos é grande e por vezes pensamos que estamos no Rio de Janeiro. Ao contrário de outras cidades européias há uma aparente convivência civilizada entre as populações de diversas origens étnicas, religiosas e raciais. Parece-nos, à primeira vista, uma sociedade em busca de uma nova identidade, agitada e estressada o tempo todo, com Metrô e ônibus cheios, as pessoas correndo de um lado para outro, com aquela agitação das grandes metrópoles. Há também inúmeros visitantes presentes na cidade  em busca de seu glamour e de sua intensa atividade artística e cultural.
Sem dúvida continua a ser uma cidade cheia de vida, porém seu aspecto denuncia, não sei bem dizer, se um ar de dificuldades ou de decadência. A labuta pela manutenção de uma das mais incríveis cidades já construídas pela humanidade contrasta com um certo pessimismo dos franceses que sentem as conseqüências da diminuição do papel que sua sociedade e cultura já tiveram no mundo. Todos criticam que a adoção do euro tornou o custo de vida muito alto e o sentimento de nostalgia, expressa uma sensação de perda, de um tempo que as coisas eram melhores. Será?