terça-feira, 13 de junho de 2006

Paris Atual


A que um dia já foi chamada de cidade luz, considerada um dos centros do mundo, não sabemos se ainda é. De alguma maneira encarna as contradições dos dias atuais. Os franceses disseram não, pelo voto, à ratificação da constituição européia e disseram não, através de grandes confusões e manifestações de rua, à chamada lei do primeiro emprego, ambos por considerarem uma ameaça ao seu modo de vida. Num certo sentido o que está em questão para eles é o ‘european way of life’ com sua ênfase na proteção social e o ‘american way of life’ baseado na competição e na chamada economia de mercado. Haverá eleições gerais no ano próximo e os partidos políticos estão concentrados no debate das questões do emprego, do futuro dos jovens, no custeio da previdência social e também na questão da segurança pública. Ainda continua a ocorrer nas periferias alguns embates entre jovens, às vezes encapuzados, com as autoridades, em verdadeiras batalhas campais, enquanto os políticos discutem leis mais liberalizantes ou redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais e aumento do salário mínimo. O centro das questões ideológicas não está mais entre socialização dos meios de produção e a livre iniciativa, mas no emprego e na disputa direta pelo resultado da produção e pela maior ou menor exploração da força do trabalho humano.
Paris é hoje uma cidade além de cosmopolita também mestiça, observa-se a convivência multirracial e a miscigenação em todos os cantos. A população de negros e mulatos é grande e por vezes pensamos que estamos no Rio de Janeiro. Ao contrário de outras cidades européias há uma aparente convivência civilizada entre as populações de diversas origens étnicas, religiosas e raciais. Parece-nos, à primeira vista, uma sociedade em busca de uma nova identidade, agitada e estressada o tempo todo, com Metrô e ônibus cheios, as pessoas correndo de um lado para outro, com aquela agitação das grandes metrópoles. Há também inúmeros visitantes presentes na cidade  em busca de seu glamour e de sua intensa atividade artística e cultural.
Sem dúvida continua a ser uma cidade cheia de vida, porém seu aspecto denuncia, não sei bem dizer, se um ar de dificuldades ou de decadência. A labuta pela manutenção de uma das mais incríveis cidades já construídas pela humanidade contrasta com um certo pessimismo dos franceses que sentem as conseqüências da diminuição do papel que sua sociedade e cultura já tiveram no mundo. Todos criticam que a adoção do euro tornou o custo de vida muito alto e o sentimento de nostalgia, expressa uma sensação de perda, de um tempo que as coisas eram melhores. Será?

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