terça-feira, 21 de novembro de 2006

Chile


Um país sul-americano parece estar saindo do rol dos subdesenvolvidos. Visitar o Chile, mesmo que por duas semanas, oferece ao passante a sensação de estar num lugar onde as coisas funcionam, onde não é raro ouvir da população expressões de auto-estima elevadas. Também pudera, a educação está universalizada e a desgraça do analfabetismo erradicada. O principal patrimônio do país são os chilenos educados e cordiais. Mesmo com uma economia que depende basicamente do cobre, da produção de frutas, pescados e vinhos, eles estão conseguindo manter durante vários anos taxas de crescimento elevadas o que torna visíveis a olho nu seus resultados. As estradas chilenas nada devem às dos países europeus, a frota de automóveis é nova. O Metro de Santiago é um show, e já possui uma rede maior que a da cidade de São Paulo. Não se observam favelas e casebres mesmo nos ambientes mais pobres. Os conjuntos habitacionais são mais criativos que os nossos. Vêem-se novas construções de modernos edifícios por todos os lados e sua capital prima pela limpeza e comportamento coletivos exemplares. Convivendo com a poluição atmosférica, Santiago é também, uma cidade arborizada, e suas ruas e avenidas têm calçadas largas. O incrível é que eles conseguem ainda se identificar como pedestres e a gente estranha que os carros parem e aguardem as pessoas atravessarem as ruas.
É para pensar: uma das principais atrações turísticas do Chile são as vivendas construídas por seu poeta maior Pablo Neruda (La Chascona em Santiago, La Sebastiana em Valparaiso e a de Isla Negra). O personagem principal do filme “O Carteiro e o Poeta”, Don Pablo foi escritor, intelectual, político, militante do partido comunista, diplomata e ganhador do Prêmio Nobel de literatura. Ele faleceu de desgosto e infarto, ao ver sua casa de Santiago empastelada, alguns dias após o golpe de estado de 1973, que vitimou seu amigo e companheiro Salvador Allende. Ele mora no coração e na memória de seu povo.
Mas é, na deslumbrante Região dos Lagos Chilenos, sem dúvida uma das mais lindas do globo, que o espírito se enternece. Protegida por seus parques nacionais, a paisagem combina a cor esmeralda das águas dos lagos, com a paisagem das montanhas nevadas e serras cobertas de florestas verdes. Nas estradas de acesso, uma vegetação sem-vergonha, como se fosse praga, decora de amarelo os caminhos. O Monte Osorno, vulcão adormecido, com suas neves eternas, forma um cone que se assemelha a um sorvete de pistache coberto de calda de chocolate branco, que os mais viajados dizem se parecer com o Monte Fuji, no Japão.

“À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava, a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.”
in “O teu riso” Pablo Neruda