terça-feira, 16 de outubro de 2007

Jardim de Palácio


Cores de outono nos caminhos de um palácio na costa oeste da Irlanda do Sul
 

Mão Inglesa


Uma das melhores maneiras de se viajar é de carro, por estradas secundárias. A cada quatro ou cinco quilômetros passa-se por uma aldeia, uma pequena vila. Os caminhos são cheios de curvas, as vias estreitas, com pouco movimento; às vezes é necessário esperar, que algum rebanho de ovelhas ou de vacas, deixe-nos passar, ou então, ir vagarosamente seguindo um trator até que este vire à direita ou à esquerda e desapareça no meio do campo. Freqüentemente, quando se erra é que se acerta, e se chega a lugares não imaginados, vivenciando-se situações que ficam na memória.
Não sei bem o porquê mas sempre tive medo de pensar em dirigir nos países que adotam a chamada Mão Inglesa. Desta vez porém, tomei coragem e aluguei um carro para dirigir no País de Gales. Vindo por barco de Dublin, chegamos a uma pequena cidade portuária: Holyhead, e lá pegamos o auto que havíamos alugado pela Internet.
Viajamos por três dias até Cardiff, atravessando o exuberante parque da Snowdonia e pernoitamos em Betws y Coed, uma espécie de aldeia galesa construída à beira de um rio, uma graça. Como já estamos no outono, a variedade de cores das folhas é sensacional, é daquele tipo de paisagem explorada por fotógrafos, pintores e cineastas, além daqueles que misturam palavras e mais palavras tentando descrever o que somente estar lá permite sentir na sua totalidade mutante.
O tal de Wales merece respeito, o campo todo parece um jardim sem fim, todo cuidado e repartido por cercas de pedra que dividem a terra em áreas de pastoreio de ovelha e pastos para gado. Qualquer lado que se olhe se enxerga, ao menos uma ovelha, mas o normal é se ver grandes rebanhos delas.
Dirigir com tudo ao contrário foi mais fácil do que eu pensava. Na verdade, a maior dificuldade estava na largura das estradas. As vias são bem pavimentadas e sinalizadas, mas são estreitas e em muitos trechos com muros de pedra dos dois lados, sem acostamento. Depois dessa experiência eu correria mole-mole a prova de automobilismo do Principado de Mônaco. Mas o que é a vida sem emoções, não é?! A parte mais fácil foi que o carro tinha GPS e uma moça que ia dizendo o caminho que tinha que ser feito. A danada da guria conhecia todos os caminhos e não errava nunca. Uma beleza, só vendo e ouvindo.
Visitamos no litoral a localidade de St Govans, de onde podem ser vistas escarpas e penhascos deslumbrantes (sea cliffs) e também uma praia de surfistas em Aberystwyth. Mesmo com o dia sinistro tinha uma galera pegando umas ondas.
O País de Gales confirma sua fama, tem um povo cordial e é super bem cuidado por sua população. Os caras ainda se dão ao luxo de ter dois idiomas oficiais e falar a língua dos antepassados: o Welsh (Galês), além do inglês. O status político é de um condado que se tornou um país membro do Reino Unido.
Viajar é conhecer, e viajar pela mão inglesa é ver as coisas por outro ângulo, onde a direção é do lado direito do carro, mas se dirige pelo lado esquerdo das ruas. Fiquei a me perguntar quantos serão os países que adotam um sistema ou outro de orientação no trânsito? Parece uma pergunta sem importância. E é.

domingo, 7 de outubro de 2007

Belfast


Muitas pessoas ouviram falar a primeira vez em Belfast quando assistiam à televisão em suas casas, no jornal das oito, e viram cenas de batalhas de rua, gente ferida sangrando e o locutor dizer que as imagens eram de lutas entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte; e mais, que havia uma organização católica autodenominada Exército Republicano Irlandês – IRA, que estaria por realizar atentados à bomba em Londres. Passavam a idéia de uma cidade muito violenta habitada por fanáticos religiosos, dispostos a tudo.
Tempos depois, assistiram a um filme chamado: “Em nome do pai” e puderam ver, entre muitas outras coisas, imagens de um bairro da cidade, com cenas de perseguição policial e solidariedade entre vizinhos. Viram-na sob o ângulo de uma fuga através de telhados, ruas e becos. Uma cidade cheia de confusões…
O visitante ocasional, por definição um ingênuo, coleciona impressões, observações ligeiras, olhares sobre os edifícios, frases soltas… Sempre com tendência a generalizar. Mas, no caso, ao caminhar pela cidade de Belfast, não custa evitar passar por perto das igrejas, porque afinal nunca se sabe o que eles estarão pensando agora, não é?
Hoje, após o acordo de paz, celebrado em1998, os turistas são convidados a fazer um giro pela cidade e contemplar uma série de murais, painéis expressivos que relembram a dor deste período recente e informados que tais desentendimentos são antigos, remontam a 1600. São também convidados a escrever mensagens em um muro que separava o setor católico do protestante. Estas pinturas constituem-se na principal atração desta cidade de cerca de 500 mil habitantes. É um lugar que hoje fatura com as cicatrizes de sua guerra civil.
No norte da Irlanda do Norte, em seu litoral, encontram-se formações em pedra chamadas de Giants Causeway. De encher os olhos. As enormes pedras em formatos geométricos parecem ter sido arrumadas por algum filhote de gigante detalhista,compulsivo, passando umas férias por aquelas bandas. Naturalmente, há muitas outras lendas para explicar o fenômeno, algumas delas místicas que afirmam que tais pedras têm poderes especiais. A explicação mais plausível contudo, no estilo Paulo Coelho, indica ter sido, a exemplo das imagens da Ilha de Páscoa, obra de seres extraterrestres de grande tamanho, nossos antepassados que por aqui viveram há milhões de anos; ao contrario dos céticos que acreditam ser resultado de erupções vulcânicas .