terça-feira, 16 de maio de 2006

Praga (gente)


Para se viajar pelas estradas da Áustria e da República Tcheca é preciso comprar um selo pedágio que se pode adquirir na fronteira ou em postos de gasolina. Na Alemanha não há pedágios nas auto-estradas. Para nossa surpresa, as estradas, à exceção da França, não são tão boas quanto conta a lenda a respeito das autobans. Apenas um registro, porque não há razão para queixas maiores.
Tínhamos uma enorme expectativa em relação à Praga, desde o tempo da guerra fria, quando ouvíamos falar muito dos seus encantos e principalmente de sua alegria. Ao chegarmos vindo de Viena, sentimos de imediato uma enorme mudança de ambiente, parece que se está aportando numa grande cidade parecida com as nossas, mais agitada e também com problemas sociais à vista, com muita mendicância. Causa espanto ver os pedintes, em geral jovens, alguns deles alcoólatras, colocando-se de joelhos, curvando-se até encostar a cabeça no chão, com os braços estendidos, segurando um chapéu ou boné, em posição de total humilhação e súplica, chocante, de início parece até uma representação. Depois, percebe-se que aqui também eles fazem parte da paisagem e poucas são as pessoas que lhes dão alguma atenção. Mesmo havendo repressão policial encontram-se vários deles pelas ruas, praças e através da ponte Carlos IV, um dos principais pontos de atração turística da cidade.
A questão do desemprego nota-se nos vários tipos de expedientes usados para sensibilizar quem passa: o mais bem sucedido é o realizado por músicos de vários tipos, em geral de boa qualidade, que conseguem alegrar o pedaço e faturar algum. Há também muitos retratistas e caricaturistas mostrando sua arte e também faturando algum. O mais curioso dos expedientes foi ver uma oficina de serralheiro ao ar livre, com direito a fogão e tudo mais, numa praça, trabalhando peças em metal para venda, que atraía os curiosos para vê-lo trabalhar.
Chegamos à Praga na véspera do dia primeiro de maio, pensamos que haveria alguma manifestação pelo dia do trabalho, picas, feriadão dos bons, tudo fechado, menos é claro: bares, restaurantes e lojas de lembranças, que por sinal esbanjam peças em cristal, os da Boêmia, e todos os tipos de bonecas russas, aquelas que se encaixam umas nas outras, pelo jeito a herança principal deixada pelos russos para o comércio da cidade.
Assistimos sim, em outro dia, a uma manifestação de porte razoável, com um monte de jovens concentrados na praça da cidade antiga que saíram em passeata pedindo a liberação da maconha, devidamente acompanhados pela polícia.
Praga é desde algum tempo forte pólo de atração turística e já nesta época esta repleta de gente de todas as partes do mundo, falando todas as línguas, muitos em excursão sempre lideradas por algum guia de bandeira ou guarda-chuvas na mão. Imaginamos que na época das férias de verão vai ficar impossível se caminhar por estas bandas. Deve ser um frevo daqueles.

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