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sexta-feira, 26 de maio de 2006

Colônia

Quando se viaja de Berlim para Colônia, pelas rodovias alemãs, pode-se observar um paradoxo: em vários lugares a exploração da energia dos ventos - eólica – com seus inúmeros cata-ventos, concorre na paisagem com grandes usinas movidas a energia atômica, ao que se sabe, principal fonte de suprimento de energia elétrica em boa parte do continente europeu e asiático. O politicamente correto da utilização de fontes alternativas coabita com a polêmica ameaçadora da energia nuclear.
A famosa catedral de Colônia é realmente de fazer cair o queixo. Sua construção foi iniciada no século XIII mas somente concluída em 1880. Dá vontade de voltar a ela várias vezes para contemplar sua imensidão e as suas magníficas esculturas, tapeçarias, pinturas e vitrais. Quando se olha para suas torres, de tão altas elas parecem se arredondar, é inevitável lembrar-se da obra de Gaudi em Barcelona. Terá o mestre se inspirado na catedral de Colônia? 
Porém Colônia é mais do que sua Catedral, cortada pelo rio Reno, tem muito charme e beleza. Como uma das cidades mais antigas da Alemanha ela mistura o antigo e o novo, com suas igrejas românicas e torres medievais que resistiram ao tempo. A cidade soma 1 milhão de habitantes e situa-se na Renânia do Norte-Vestfália, numa região industrial do país, numa espécie de ABC.
A convivência de executivas com seus terninhos básicos e executivos de gravata com turistas de tênis, jeans e mochilas lhe confere um toque original. As diárias nos hotéis da cidade são mais baratas ao final de semana indicando esta característica que se observa ao andar por suas ruas e sentar para tomar cerveja em seus bares. Por sinal, por estas bandas alemãs, como se bebe cerveja e se come carne de porco, batata, chucrute, e, nesta época do ano, aspargos frescos preparados de todas as maneiras.
Assim encerramos esta etapa da viagem iniciada na formosa Lisboa rumo à Paris, via Praga. Na ida de Colônia para Paris experimentamos a força dos ventos nas estradas, de arrepiar motoristas calejados, uma emoção a mais, neste périplo de 50 dias.

Berlim 2

É emocionante chegar a uma cidade com a história recente que ela tem. Há menos de 20 anos estava divida por um muro, construído a partir de 1961 e que foi derrubado em 1989.  De um lado ficaram os russos (a Berlim oriental) e do outro os aliados (a Berlim ocidental) que a dividiram em três setores: inglês, americano e francês  constituindo um território encravado, como se fosse uma ilha, na chamada Alemanha Oriental. Como terá sido a vida de seus habitantes neste período de mais de meio século, desde o entusiasmo com a ascensão do nazismo até a decepção da derrota, as incontáveis vítimas e a sua quase total destruição?
Hoje, Berlim surpreende quem chega para visitá-la. A sua população é de aproximadamente quatro milhões, mas como é uma cidade espalhada, com vários “centros”, e um padrão de construção de prédios baixos e ruas largas, tudo parece muito espaçoso e sem confusão aparente, com uma notável rede de transportes, inúmeras praças e parques, onde nesta época que o Sol já começa a se firmar, vê-se pessoas muito a vontade se esparramando pelos gramados, algumas delas nuas e branquinhas.
A Berlim de hoje é uma cidade cosmopolita, com grande movimentação cultural e presença de estudantes de todas as partes.
Tivemos a sorte de estarmos na companhia de dois estudantes de arquitetura: a Martinha e seu namorado Thomas, ela brasileira e ele alemão, um privilégio, pois recebe-se, além de muitas informações e dicas, o sentimento de quem vive a cidade em seu dia a dia.
Berlim, para quem gosta das grandes cidades, é um menu completo. Desde coisas estranhas, como o fato de estarem demolindo a antiga sede do governo da Alemanha Oriental (comunista), segundo se argumenta, por razões estéticas não observáveis a olho nu, até coisas formidáveis como a exposição fotográfica permanente no lindo prédio do Parlamento (Reichstag), que apresenta uma resenha da vida política do país, desde sua construção  no século XIX. O prédio tem em sua parte superior uma abobada de vidro, de livre visitação, que através de espelhos permite que se observe de vários ângulos os deputados trabalhando. Dizem eles que objetiva dar transparência à casa do povo. Pode ser. Sei não.
Berlim é hoje uma cidade onde se vê guindastes por todos os lados, obras novas, de reconstrução e restauro. 
Berlim é uma cidade que cativa.

Berlim


É notável o número de crianças pequenas, passeando com seus pais em super-carrinhos, crianças lindas que nos faziam o tempo todo lembrar da Luisinha. Ah! Quanta saudade da pequena e dos grandes também. Nas cidades em que visitamos, pelo jeito, eles estão levando à sério a recuperação da taxa de natalidade. Não pensem que eles esqueceram dos cachorros, eles aqui freqüentam restaurantes, supermercados e passeiam de metrô e ônibus. Aqui afinal, cachorro também é gente, como disse um certo ministro de esquecível memória.
A presença de estrangeiros, particularmente dos turcos que imigraram em grande número para o esforço de reconstrução da Alemanha, é dominante em vários ramos de comércio. Na Alemanha, como em alguns outros países, o direito de nacionalidade é obtido pelo sangue, jus sanguinis, e eles têm agora que resolver a questão dos filhos e netos desta galera que já nasceu no país, se sente do país, fala a língua do país, mas tem seus direitos políticos limitados, mesmo que os benefícios sociais sejam universalizados. Questão semelhante está tendo que ser tratada por outros países da Europa.
Quando houve a derrubada do muro de Berlim, eles quase iam se esquecendo que era importante manter uma parte, para a preservação da memória histórica da cidade. Há ainda cerca de 1 km, que é como uma galeria a céu aberto, todo pintado, ao estilo dos grafites, com manifestações diversas de apelo a paz e a liberdade . A percepção que se tem é que eles não querem se lembrar daquele muro pois não há muito material disponível que indique o seu traçado e o que provocou na vida dos habitantes da cidade.
A bicicleta é um meio de transporte largamente utilizado e a cidade está preparada para os ciclistas, há ciclovias demarcadas por toda a cidade, os vagões de metrô e mesmo os ônibus prevêem seu uso. Vêem-se mais bicicletas que motos circulando pelas ruas. Aliás, o mesmo, observamos na maior parte das cidades que visitamos.
Em toda a Alemanha pode-se ver bandeiras do Brasil e cartazes com fotos ou caricaturas do Ronaldinho Gaúcho e é muito comum vermos europeus com a camiseta verde e amarela. O futebol é sem dúvida a principal marca de promoção do nosso país por estas bandas e neste ano de copa do mundo que, ainda por cima, nos consideram favoritos, por toda parte topa-se com as cores nacionais.
A partida final da Copa está prevista para o estádio olímpico de Berlim, que foi construído para a olimpíada de 1936. É um estádio imponente de arquitetura austera, bem ao estilo do que se construiu à época do nazismo. Torcemos que os nossos Ronaldinhos estejam lá, e que o nosso favoritismo não de azar. Acho que seria de arrepiar uma final contra os donos da casa.

Dresden

Dresden

Saímos de Praga, capital da Boêmia, e chegamos a Dresden, na região da Saxônia, que até pouco tempo atrás fazia parte da chamada Alemanha Oriental. A cidade foi uma das mais atingidas pelos bombardeios aliados ao final da Segunda Grande Guerra Mundial. Ainda hoje as obras de restauração e reconstrução estão por todo lugar. Os habitantes mais velhos, em sua maioria, são pessoas rechonchudas e meio secas no tratamento, normalmente não falam uma palavra em qualquer outra língua, muito menos inglês. Também não é para menos, estas cidades alemãs passaram por várias duras durante mais de um século, vivendo muitas necessidades, ilusões e decepções. A população mais jovem percebe-se que já está em outra, olhando mais para o futuro, mais inserida no mundo globalizado e se dedicando ao trabalho. Há inclusive uma nova instalação – vertical - da Wolkswagen em um edifício cujas paredes são de vidro, localizada próxima ao centro, que surpreende por sua aparência não convencional. Uma curiosidade: em Dresden foi inventado o leite condensado e até hoje há a leiteria, toda decorada em azulejos, onde funciona um café e restaurante que serve, obviamente, leite condensado e outros drinks, como por exemplo cerveja.
Dresden tem em sua área central histórica várias construções de respeito, algumas totalmente reconstruídas, como a Igreja Frauenkirche, que depois de pegar fogo implodiu e foi reconstruída seguindo os detalhes do projeto inicial. O maior destaque é o palácio Albertinum que hoje abriga um museu que reúne uma das melhores coleções de pintura dos séculos XVI ao XIX, que se constitui em importante referência cultural e que atrai muita gente para visitá-la, principalmente da própria Alemanha

Cortada pelo rio Elba, a cidade tem um aspecto singelo e bonito. Quer se passeie de barco ou a pé, vive-se num ambiente onde a nossa mente viaja se perguntando: como que lugares tão atormentados por períodos históricos tão conturbados, apresentam tal capacidade de reconstrução e de criação de uma nova ambiência humana de trabalho e convivência?

sábado, 13 de maio de 2006

Munique


Chegamos à Alemanha, em München, capital da Bavária. É marcante como em diversas áreas da Europa, devido à história e tradição local, o pessoal se identifica mais com sua região do que propriamente com o país, cultivam sua personalidade e identidade, o que se traduz em valorização da cultura e dialeto próprios. Em Munique, assim como já havíamos percebido em Barcelona, há um enaltecimento das coisas bávaras. Mas para nós, pobres ignorantes das diferenças locais, chegamos à Alemanha, país que vai ser sede da Copa do Mundo de 2006. Nota-se por todo canto que o ambiente está esquentando e na cidade que tem times de futebol importantes, entre os quais se destaca o Bayern, o Ronaldinho Gaúcho é a figura do momento, aparece mais em out-doors e capas de revista que a Gisele Bünchen.
Quando se chega a Munique, logo a gente sente que está chegando numa baita cidade, daquelas grandes cidades, como Lisboa, Barcelona, Viena, e outras, que têm muita vibração e agito, além de riqueza arquitetônica, cultura, charme e história. A mania atual da cidade é a de leões espalhados por toda a cidade, obras de um artista plástico, são feitos de fibra de vidro, coloridos e tratando de inúmeros temas; no mesmo esquema que foi feito com as vacas que decoraram algumas das nossas cidades recentemente. A propósito, esta turma de cá gosta muito de leões e águias: constituem símbolos de poder e força e estão sempre presentes em seus brasões, monumentos, esculturas e edifícios.
A cidade convida-nos a experimentar suas cervejas, salsichas, batatas, chucrute e muitos pratos à base de carne de porco. Tanto nas cervejarias e restaurantes como nos chamados Bier Garten – lugares, com espaço ao ar livre, onde as pessoas podem se reunir, levar crianças e seus próprios farnéis comprando só a bebida – sempre rola muita birra e o ambiente neste início de tempo quente é de muita descontração e agito. Chama atenção que os preços de alimentação na Alemanha são relativamente baixos, se comparados aos outros países da Europa e até aos do Brasil, considerando-se o câmbio atual.
Como não podia deixar de ser, ainda estão presentes na memória, os acontecimentos da 2aGuerra Mundial, os bombardeios sofridos e o que foi reconstruído. Estivemos também no campo de trabalhos forçados de Dachau que fica próximo à Munique, tendo sido o primeiro dos diversos campos de concentração que foram construídos a partir de 1938. Neste local estão preservadas partes do que foram as instalações do campo e tem um acervo fotográfico e documental que informa aos visitantes, ter sido lá mantida uma fábrica de munições, utilizando-se mão de obra escrava de prisioneiros de diversas nacionalidades, por descriminação racial e perseguição política, em particular de judeus.  O que mais impressiona são as câmaras de gás e os crematórios.
Pra nós também foi muito agradável ter estado, por um dia, com uma família germano-brasileira, que nos levou a conhecer a vila olímpica e com quem aprendemos muito, a respeito da vida da cidade. Deixou em nós vontade de voltar.